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A cavalgada de Lorde Soth - arte de Keith Parkinson
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Um vilão ordeiro / maligno é alguém que vê leis, ordem, estrutura social e tradição apenas como meios para alcançar seus objetivos pessoais. São cruéis, arrogantes, inclementes, egoístas e consequencialistas que não pensam duas vezes em usar sua força e poder contra seus inimigos. Ainda que tenham um certo senso ético e valorizem hierarquia, disciplina e lealdade, eles não se importam com liberdade, verdade, beleza, dignidade, misericórdia, livre-arbítrio ou o direito à vida de outras pessoas.
Estes personagens detestam agir fora da lei ou quebrar suas promessas, porém não o fazem por uma questão de princípios, mas sim para se proteger contra aqueles que se opõem a eles em termos morais e por ser a maneira mais segura de alcançar suas metas pessoais – afinal, quebrar a lei pode acarretar em punições ou conseqüências graves.
Em sua visão de mundo, os mais fortes, competentes, capazes e dignos devem governar e exercer sua vontade e poder sobre os desordeiros, indignos, fracos e incompetentes – não é de surpreender, portanto, que a maioria dos indivíduos ordeiros e malignos tenha sede de poder. Para eles, hierarquia, ordem e disciplina são algo necessário para manter essa estrutura tirânica em funcionamento. Por sua vez, indivíduos que não exercem o poder devem respeitar e servir lealmente àqueles que são dignos de manter-se no topo da hierarquia, enquanto líderes fracos e incompetentes devem ser apeados do poder e substituídos. Conceitos como justiça, benevolência, compaixão e altruísmo servem apenas para fomentar o caos, a desordem e a desigualdade, beneficiar os fracos, medíocres e incapazes, e permitir que os indignos exerçam cargos de poder. Por fim, aqueles que não são capazes de manter suas posses e status por meios próprios não os merecem.
Embora muitos destes vilões demonstrem certa honra ou fidelidade a princípios éticos – por exemplo, adotam códigos de honra, seguem tabus pessoais estritos (como, por exemplo, não matar a sangue-frio ou não matar mulheres e crianças) e consideram pessoas desleais, traiçoeiras ou desonradas como escória – lembre-se que eles são malignos acima de tudo, e não pensariam duas vezes em fazer uso de manipulação, intimidação, ameaça, violência, tortura, chantagem, suborno, fraude e assassinato para conseguir o que desejam, ainda que seus métodos e a intensidade de sua violência pareçam mais brandos.
Vilões ordeiros e malignos crêem piamente que “os fins justificam os meios”, e podem até mesmo cometer alguns atos que vão de encontro a sua ética pessoal se acharem que há motivo suficiente para isso – por exemplo, para debelar uma revolta ou rebelião, um vilão ordeiro / maligno poderia aniquilar uma cidade inteira e seus habitantes para intimidar e desencorajar os rebeldes.
Não raro, muitos deles são hipócritas, ainda que não considerem a si próprios como tal ou vejam as si mesmos como malignos, principalmente quando agem em nome de uma causa, ideologia ou “do bem maior”, que deve ser imposto à força sempre que necessário.
A tirania, conforme definida na filosofia política clássica grega e romana, em que uma pessoa governa usando as leis em benefício próprio e impõe sua vontade sobre os outros, sem se preocupar com seu bem-estar ou aspirações, é o exemplo perfeito de um governo maligno e ordeiro.
Nas nações e reinos ordeiros e malignos, a lei e a ordem são usadas não em benefício da população ou para garantir liberdade e segurança, mas sim para que os poderosos continuem no poder, normalmente sob a desculpa de que “agem por um bem maior” e que “os fins justificam os meios”. Seus cidadãos ou súditos até vivem com um certo conforto, sem crime, fome ou anarquia, por exemplo, mas a um custo muito alto, pois não têm liberdade ou direitos individuais. Escravidão, tirania, coletivismo, conscrição e leis severas são a norma nestes lugares.
Podemos citar, como exemplos deste alinhamento, indivíduos malignos que possuem um código de honra pessoal ou que seguem alguns princípios éticos (como os Cavaleiros de Neraka, em Dragonlance); membros de grupos malignos que possuem hierarquia e estrutura bem definidas, como guildas de ladrões, ordens de assassinos, seitas diabólicas e algumas companhias de mercenários; ou ainda, indivíduos tirânicos e autoritários que vêem leis, ordens e estrutura social somente como meios para alcançar poder e vantagens pessoais ou impor sua vontade e visão de mundo sobre os demais.
São exemplos de raças e criaturas ordeiras e malignas: duergar e hobgoblins, que vivem em sociedades organizadas, disciplinadas e militaristas; dragões azuis, que são leais a seus companheiros e não se furtam a sedimentar alianças com outras criaturas de mesmo alinhamento; e os baatezu, habitantes dos Nove Infernos de Baator que se organizam em uma hierarquia rígida e sempre agem de acordo com regras e preceitos estritamente definidos para disseminar o mal e a perdição entre os mortais.
Princípios comuns aos vilões ordeiros e malignos:
Usa a lei e a ordem em benefício próprio e sempre as utiliza contra seus inimigos e opositores.
Segue a lei e respeita hierarquia e autoridades legalmente constituídas, civis e religiosas, quando as considera dignas e capazes. Líderes fracos e indignos devem ser removidos e substituídos. Note que autoridades benevolentes, justas ou compassivas nunca serão consideradas dignas ou capazes.
Não gosta de mentir e, em muitos casos, simplesmente não sabe mentir. Porém, manipular, omitir, induzir ao erro ou recusar-se a contar a verdade, principalmente se lhe trouxer alguma vantagem, é completamente aceitável.
Dificilmente dá sua palavra de honra ou faz uma promessa, e quando o faz nunca a quebra; porém não se sente obrigado a mantê-la a alguém que considera desonrado, desleal ou indigno.
Sempre salda suas dívidas e cumpre seus contratos, a menos que haja uma maneira ou cláusula que permita romper o contrato legalmente. Obviamente, jamais assinaria um contrato ou entraria em um acordo que não lhe fosse benéfico ou lhe concedesse uma grande vantagem.
Sempre obedece a ordens que considera legítimas, sem questionamento.
Jamais comete traição contra um familiar, amigo, companheiro ou superior hierárquico. Traidores são a escória da sociedade e devem sempre ser punidos de maneira rigorosa e exemplar.
Pode ameaçar, espancar ou torturar um prisioneiro ou oponente para extrair informações, embora nunca o faça por prazer ou levianamente.
Pode utilizar quaisquer tipos de venenos que achar necessário.
Considera a vingança como algo legítimo e justificável, em qualquer situação.
Criminosos, traidores e “inimigos do povo” devem sempre ser punidos de maneira rigorosa e exemplar para desincentivar a prática de atos ilegais. Conceitos como justiça, misericórdia e liberdade servem apenas para fomentar desordem, rebeldia e anarquia.
Comete crimes não-violentos (suborno, chantagem, conspiração, fraude, desvio de dinheiro, contrabando, falsificação, corrupção, etc.) quando for necessário para cumprir seus objetivos, e desde que tenha certeza que não será descoberto ou incriminado.
Hipocrisia e consequencialismo, isto é, a crença de que “o fim sempre justifica os meios”, são características comuns a estes vilões.
Não machuca inocentes a menos que seja estritamente necessário.
Somente presta ajuda ou auxílio a alguém mediante uma recompensa, compensação ou troca de favores.
Em combate, evita usar táticas desleais, trata oponentes honrados da mesma forma e aceita rendições se seu código de honra ou conduta assim determinar. Prisioneiros de guerra são mantidos sob custódia até o pagamento de seu resgate ou executados de maneira rápida e indolor. Lida com inimigos feridos por meio de “golpes de misericórdia”.
Valoriza princípios como disciplina, honra e lealdade; publicamente segue e obedece às leis locais, mesmo quando discorda delas, ainda que seja apenas para evitar uma punição severa ou manter as aparências.
Tendem a ver a si próprios não como malignos, mas como honrados, disciplinados e realistas. Consideram personagens bons como fracos e condescendentes que não possuem coragem e determinação para fazer o que for necessário para trazer ordem à sociedade.
Ações que os vilões ordeiros e malignos nunca praticam:
Perfídia (inclui traição, deslealdade, quebrar a sua palavra de honra e romper um contrato sem motivo).
Cometer atos que considera indignos ou sinais de mediocridade e fraqueza (como benevolência, compaixão, altruísmo, sacrifício e caridade).
Não aceitar uma rendição honrosa ou maltratar prisioneiros.
Desobediência ou insubordinação a um superior hierárquico.
Apoiar ou associar-se a rebeldes, traidores ou criaturas e grupos sabidamente caóticos.
Não vingar um companheiro ou familiar que tenha sido morto ou prejudicado de alguma maneira.
Não punir devidamente um criminoso, traidor ou inimigo.
Fugir de um combate ou demonstrar covardia. Retiradas estratégicas são permitidas e devem ser utilizadas sempre que possível. Rendição é algo desonroso, mas preferível à uma morte inútil.
Sujar suas mãos praticando atos violentos contra mulheres, crianças ou idosos (não por princípios morais, mas por considerar isso como algo desonroso, indigno ou infame), exceto em certos casos específicos, como um assassino cumprindo uma missão ou contrato. Porém, ainda que às vezes ele próprio se recuse a cometer certas ações, pode ordenar que um subalterno o faça, se julgar necessário.
Exemplos de personagens ordeiros / malignos da ficção:
Sauron e Fëanor
Xerife de Nottingham
Azalin Rex (Greyhawk)
Fzoul Chembryl, Manshoon e Artemis Entreri (Forgotten Realms)
Verminaard e Lorde Soth (Dragonlance)
Strahd von Zarovich (Ravenloft)
Loghain, Meredith e Solas (Dragon Age)
Imperador Palpatine, Conde Dookan e Almirante Thrawn (Star Wars)
Justiceiro, Dr. Destino, Mandarim e Rei do Crime (Marvel)
Lex Luthor, Capitão Frio, Sinestro, Ras al-Ghul e Darkseid (DC)
Danzo Shimura, Madara Uchiha e Kisame (Naruto)
Zamasu (Dragon Ball)
Tywin Lannister, Roose Bolton e Melisandre (GoT)