Quem jogou AD&D na década de 90 deve se lembrar da onipresença de Forgotten Realms. Posso afirmar que praticamente 75% das campanhas de grupos que utilizavam os cenários da TSR eram ambientadas em Faerûn, e quem nunca jogou neste cenário (há alguém?) certamente conheceu alguém que jogou. E tentar encontrar um grupo que preferisse Dragonlance ou Greyhawk era uma missão árdua.
Como sempre fui do contra e achava – e ainda continuo achando – que quase “toda unanimidade é burra” (há exceções), na época eu odiava Forgotten Realms. Não somente pelo fato de ser uma unanimidade entre os jogadores, claro, mas porquê o cenário apresentava graves defeitos: a religião não fazia sentido; a geografia não fazia sentido; havia características da Renascença e Era das Explorações convivendo com a Alta Idade Média ou a Antigüidade; o mundo estava cheio de NPC ultra-poderosos, que não passavam de um bando de “Mary Sues” literárias; a magia era banal; os vilões eram cartunescos e ridículos; sem falar de Elminster, que nunca passou de uma cópia cretina de quinta categoria do Gandalf. Para mim a popularidade do cenário era devida ao infinito número de suplementos e romances publicados, e não necessariamente à sua qualidade.
Quase tudo em Forgotten Realms me incomodava de um modo ou de outro. É verdade que havia algumas idéias e conceitos que eu achava geniais espalhados pelo cenário – mas, no geral, estavam enterradas em meio a um monte de bobagens.
Porém, ano passado tive a possibilidade de ler o primeiro cenário de campanha de Forgotten Realms, a famosa “caixa cinza”, publicada em 1987, ainda na 1ª Edição do AD&D, cuja capa ilustra este artigo. E, acredite ou não, mudei minha opinião – pelo menos em relação ao conceito original dos Reinos Esquecidos.
A campanha descrita na caixa cinza ainda estava fortemente ligada à visão original de seu criador, Ed Greenwood, que inicialmente concebeu Faerûn como um cenário fantástico com muitos portais mágicos que davam acesso a outros mundos, incluindo a Terra, e cujas lendas e mitos influenciaram (e, por sua vez, foram influenciados por) lendas e mitos desses mundos. Com o passar do tempo, esses portais foram evanescendo, e este mundo foi "esquecido" por nós. Daí o nome "Reinos Esquecidos".
Além disso, esta versão de Forgotten Realms não traz nenhum dos vícios e defeitos do período pós “Guerra dos Avatares”, e em muitos aspectos é bastante similar a Greyhawk, ou mesmo Mystara. O cenário é apresentado na forma de uma enciclopédia, e as descrições de lugares não são tão minuciosas quanto nos suplementos posteriores mas, ainda assim, contém idéias criativas para alimentar diversas campanhas por várias sessões. A maioria dos NPC’s apresentados estão por volta do 9º nível – e os verdadeiramente poderosos, como Elminster, aparecem apenas como “parte do cenário”, e não como os super-heróis onipresentes que tiram os PC’s da ribalta. Os adversários e ameaças são interessantes, perigosos e atuam quase exclusivamente em escala regional.
Mais importante, o cenário da caixa cinza é apresentado como um lugar onde o mal espreita em cada canto e que, por isso, necessita desesperadamente de heróis, e não meros “aventureiros”. Em outras palavras, é um cenário muito bom para uma campanha de fantasia heróica que valoriza a exploração e o desenvolvimento do cenário pelo grupo.
Se você gosta de Forgotten Realms, e principalmente se você não gosta, faça um favor a si mesmo: ignore tudo o que foi publicado após a famigerada “Guerra dos Avatares”. Tente obter uma cópia do Forgotten Realms Campaign Set, a famosa caixa cinza. Leia o material sem preconceitos, e você descobrirá, como eu descobri, um grande cenário de RPG.
Quem sabe, você pode até mudar sua opinião.
Até a próxima,
Ricardo
Como sempre fui do contra e achava – e ainda continuo achando – que quase “toda unanimidade é burra” (há exceções), na época eu odiava Forgotten Realms. Não somente pelo fato de ser uma unanimidade entre os jogadores, claro, mas porquê o cenário apresentava graves defeitos: a religião não fazia sentido; a geografia não fazia sentido; havia características da Renascença e Era das Explorações convivendo com a Alta Idade Média ou a Antigüidade; o mundo estava cheio de NPC ultra-poderosos, que não passavam de um bando de “Mary Sues” literárias; a magia era banal; os vilões eram cartunescos e ridículos; sem falar de Elminster, que nunca passou de uma cópia cretina de quinta categoria do Gandalf. Para mim a popularidade do cenário era devida ao infinito número de suplementos e romances publicados, e não necessariamente à sua qualidade.
Quase tudo em Forgotten Realms me incomodava de um modo ou de outro. É verdade que havia algumas idéias e conceitos que eu achava geniais espalhados pelo cenário – mas, no geral, estavam enterradas em meio a um monte de bobagens.
Porém, ano passado tive a possibilidade de ler o primeiro cenário de campanha de Forgotten Realms, a famosa “caixa cinza”, publicada em 1987, ainda na 1ª Edição do AD&D, cuja capa ilustra este artigo. E, acredite ou não, mudei minha opinião – pelo menos em relação ao conceito original dos Reinos Esquecidos.
A campanha descrita na caixa cinza ainda estava fortemente ligada à visão original de seu criador, Ed Greenwood, que inicialmente concebeu Faerûn como um cenário fantástico com muitos portais mágicos que davam acesso a outros mundos, incluindo a Terra, e cujas lendas e mitos influenciaram (e, por sua vez, foram influenciados por) lendas e mitos desses mundos. Com o passar do tempo, esses portais foram evanescendo, e este mundo foi "esquecido" por nós. Daí o nome "Reinos Esquecidos".
Além disso, esta versão de Forgotten Realms não traz nenhum dos vícios e defeitos do período pós “Guerra dos Avatares”, e em muitos aspectos é bastante similar a Greyhawk, ou mesmo Mystara. O cenário é apresentado na forma de uma enciclopédia, e as descrições de lugares não são tão minuciosas quanto nos suplementos posteriores mas, ainda assim, contém idéias criativas para alimentar diversas campanhas por várias sessões. A maioria dos NPC’s apresentados estão por volta do 9º nível – e os verdadeiramente poderosos, como Elminster, aparecem apenas como “parte do cenário”, e não como os super-heróis onipresentes que tiram os PC’s da ribalta. Os adversários e ameaças são interessantes, perigosos e atuam quase exclusivamente em escala regional.
Mais importante, o cenário da caixa cinza é apresentado como um lugar onde o mal espreita em cada canto e que, por isso, necessita desesperadamente de heróis, e não meros “aventureiros”. Em outras palavras, é um cenário muito bom para uma campanha de fantasia heróica que valoriza a exploração e o desenvolvimento do cenário pelo grupo.
Se você gosta de Forgotten Realms, e principalmente se você não gosta, faça um favor a si mesmo: ignore tudo o que foi publicado após a famigerada “Guerra dos Avatares”. Tente obter uma cópia do Forgotten Realms Campaign Set, a famosa caixa cinza. Leia o material sem preconceitos, e você descobrirá, como eu descobri, um grande cenário de RPG.
Quem sabe, você pode até mudar sua opinião.
Até a próxima,
Ricardo
Eu tenho a 2a edição, lançada pela Abril. Mas ignoro a guerra dos avatares.
ResponderExcluirEu faço a mesma coisa. Inclusive estou mestrando atualmente uma campanha em Forgotten Realms que se passa no "Ano do Príncipe" (1357 DR), um ano antes da data canônica da Guerra dos Avatares, e esse evento certamente não irá ocorrer na minha campanha.
Excluir