Um fato curioso da maioria dos cenários de fantasia medieval é que o papel das mulheres normalmente reflete nossa sociedade moderna - é comum vermos mulheres guerreiras, governantes, sacerdotisas e comerciantes emancipadas e independentes que são vistas e aceitas como iguais.
Obviamente não há nada de errado nisso, é um anacronismo que funciona para muitos jogadores e mestres, até porquê jogos de fantasia medieval não precisam, necessariamente, ser historicamente acurados - se fossem, não teríamos magias ou dragões voando pelos céus.
Mas e se o mestre quiser criar ou utilizar um cenário historicamente acurado? Isso é totalmente possível sem desencorajar a criação de personagens femininas?
Sim, é. Primeiramente, vale lembrar que na sociedade medieval ocidental embora as mulheres normalmente limitavam-se aos papéis de mães, consortes ou religiosas, muitas tiveram um papel importante na história, principalmente através de ações políticas, como as rainhas Maude (Matilde) da Inglaterra ou Eleanor da Aquitânia, ou tornaram-se influentes teólogas, como as monjas Hildegarda de Bingen e Juliana de Norwich. Claro, as mulheres não pegaram em armas ou comandaram exércitos (Joana D'Arc foi uma raríssima exceção), mas nem por isso foram insignificantes para a época, como muitos crêem.
Utilizando uma abordagem mais "histórica", poderíamos definir as classes de personagem de AD&D com relação a personagens femininas do seguinte modo:
Guerreiras
Uma campanha de fantasia medieval com viés mais histórico não teria mulheres guerreiras em hipótese alguma. Mulheres não poderiam desenvolver habilidades marciais e nenhuma que quisesse se tornar uma guerreira, ranger ou cavaleira seria levada a sério. Nem mesmo uma nobre. Porém, podemos incluir algumas exceções.
Paladinas seriam possíveís. Além de termos um precedente histórico (Joana D'Arc), são as divindades que escolhem seus paladinos. Dificilmente os "poderes estabelecidos" ousariam questionar a decisão de uma divindade, por mais "ultrajante" que isso lhes parecesse. Ainda assim, lembre-se: paladinos são raros; mulheres paladinas são mais raras ainda.
Guerreiras bárbaras seriam aceitáveis em algumas culturas. Dentre os celtas havia várias mulheres guerreiras (históricas e lendárias), como Boadicca, Cartimandua e Méabh de Connacht, ainda que isso não fosse algo comum. E embora não haja evidências concretas de que havia mulheres guerreiras entre os viquingues e varengues (exceto por breves menções dos historiadores João Skylitzes e Saxo Gramaticus), o folclore e a mitologia escandinava falam de várias guerreiras, como a valquíria Brynhildr (Brunilda), a donzela-guerreira Hervor e a princesa Thornbjorg.
Entre os não-humanos, porém, é possível subverter a "precisão histórica" e permitir que algumas raças, como elfos, permitam mulheres guerreiras ou rangers. Mais um motivo para causar estranheza entre os humanos...
Magas
Há uma abundância de magas e feiticeiras no folclore europeu, e esta classe de personagem seria totalmente apropriada em uma abordagem mais histórica.
Ladinas
Essa é uma das classes de personagem mais versáteis do AD&D. Além do papel (cliché) do ladrão, ladinos podem ser assassinos, espiões, batedores e trovadores. Muitos desses papéis podem ser desempenhados por mulheres, mesmo em cenários mais "históricos", especialmente naqueles mais baseados no final do século XIV/Renascença.
Sacerdotisas
Aqui, a decisão cabe ao mestre, baseado nas religiões de seu cenário. Mesmo uma religião monoteísta poderia ter sacerdotisas (o Chantry, de Dragon Age: Origins, é um exemplo), sem que isso fosse de encontro à "historicidade" da campanha.
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