quarta-feira, 4 de março de 2009

Paladinos

Com o advento da 3ª e 4ª edições de D&D, muitas das classes de personagens tradicionais sofreram uma forte descaracterização, e talvez a mais avacalhada delas seja o paladino. Na terceira edição, não só humanos, mas membros de qualquer raça podiam se tornar paladinos. Na quarta edição, as raízes lendárias e literárias desta classe de personagem foram totalmente desprezadas e jogadas no lixo (não sei se os designers da nova edição fizeram isso conscientemente ou não) e o paladino se tornou um mero guerreiro a serviço de qualquer divindade – nicho este que, na segunda edição, é preenchido pelo cruzado, uma classe de personagem opcional.

Mas para quem sabe de onde veio o conceito dos paladinos, tais absurdos são inaceitáveis.

Paladinos têm sua origem não somente nos cavaleiros das Lendas Arturianas, como Sir Galahad e Sir Lancelot, mas principalmente nas canções de gesta francesas que narram de maneira épica os feitos de reis franceses, como Carlos Magno, e principalmente dos valorosos e piedosos cavaleiros de sua corte, que eram chamados de paladinos ou Doze Pares. A Canção de Rolando é um dos mais famosos exemplos de canção de gesta medieval.

Inicialmente, esses poemas épicos tratavam de fatos históricos, porém de modo idealizado. Freqüentemente, os inimigos dos paladinos eram sarracenos, e muitas das histórias descrevem as Cruzadas ou as campanhas de Carlos Martel contra os invasores mouros. Com o passar do tempo, a partir dos séculos XII e XIII, os menestréis introduziram não somente elementos fantásticos, como princesas em perigo, magos, monstros, fadas e gigantes, mas também diversos companheiros de aventuras dos cavaleiros, como Turpin, arcebipo de Reims, e Maugrim, o Mago, primo de um dos paladinos.

Muitas das características dos paladinos de AD&D derivam das canções de gesta. Por exemplo, a montaria fiel foi inspirada em Bayard, o cavalo mágico de Renaud de Montauban, um dos Doze Pares; a espada sagrada é baseada nas armas de diversos paladinos, principalmente Durandal, a espada sagrada de Rolando.

O ciclo dos paladinos da França serviu, também, como principal inspiração ao livro Three Hearts and Three Lions, de Poul Anderson. O autor, por sua vez, adicionou outros elementos fantásticos aos paladinos retratados em seu romance – muitos dos quais também serviram como inspiração na criação dos paladinos de AD&D.

Alguns irão afirmar que essas mudanças recentes só trouxeram benefícios, como o fato de agora um paladino nunca perder seu status. Eu discordo. O paladino não é um mero cavaleiro ou um cruzado – sua origem é bem específica, e suas características próprias deveriam ter sido preservadas. Com tantas mudanças, os designers da nova edição, no mínimo, tinham de ter mudado o nome da classe ou se livrado dela completamente, como fizeram com os “bardos”.

É verdade que, do modo que é descrido na 2ª edição, o paladino é uma das classes mais difíceis de se interpretar, e talvez a que tenha o código de conduta mais restritivo. Tampouco essa classe de personagem se encaixa em todo estilo de campanha – paladinos não têm nada a ver com cenários inspirados em Espada & Feitiçaria ou em cenários de campanha “exóticos” como Kara-Tur ou Dark Sun, por exemplo.

Porém, nas mãos de um jogador que entenda a essência dessa classe de personagem, e com um Mestre que incentive os PC’s a terem conduta heróica e que saiba criar um clima de fantasia épica, o paladino se torna uma valiosa adição a qualquer grupo de fantasia medieval.
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2 comentários:

  1. Excelente texto e pesquisa sobre a origem da classe dos Paladinos.

    Concordo com quase tudo que vc disse, menos com a parte em que disse que o novo Paladino não é capaz de perder seu status, pois é sim.
    O código na edição D20 está descrito assim: O paladino deve manter sua tendência Leal/Boa e perderá todas suas habilidades de classe caso cometa conscientemente um ato de maldade. Além disso, o código dos paladinos o obriga a respeitar a autoridade legitiima; agir com honra (não mentir, não trapacear, nunca usar venenos, etc); ajudar aqueles em necessidade (contanto que eles não usem sua ajuda para fins caóticos ou malígnos); e punir aqueles que ameaçam ou ferem os inocentes e fracos.

    Oras, o código está até mais descritivo do qe na edição anterior, pra servir de guia de conduta pra quem não entende ou sabe da origem dos Paladinos como classe. Porém note que ele ainda é capaz de perder seu status, caso viole qualquer um dos itens do código.

    De qualquer forma, sem dúvida alguma o texzto é mais do que ótimo, pois resgata para os desavisdos e pros novos mestres e jogadores a essência (isso sim, algo que sinto que se perdeu na edição D20) das classes de personagens e os arquétipos que elas representavam.

    Paladino é uma das classes mais difíceis de se jogar, mas ainda é a minha classe favorita, tanto pelo desafio quanto pela origem que remetem ao Cavaleiro Perfeito das lendas arturianas.

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  2. Oi, Marcelo. Acho que não ficou muito claro em meu texto que quando eu disse que "agora os paladinos não podem mais perder seu status" eu me referia exclusivamente à "4a Edição".

    Lá os paladinos realmente não perdem o status - afinal, com as diferenças entre as classes agora sendo meras variações cosméticas, a perda de status não faz mais sentido.

    Guerreiros e paladinos viraram meras variações de um mesmo personagem. Digamos, a mesma música com arranjos diferentes.

    E olha que nem vou falar de "coisas" como paladinos tieflings ou dragonborns. Me dá a maior gastura... hehehe.

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